Por David Lipsky
quarta-feira, 8 de abril de 2009
Kate Winslet - Rainha do Mar
Com o sucesso estrondoso de Titanic, Kate Winslet transformou-se em uma grande estrela do cinema. Em 1998, a menina inquieta do comercial de cereal era “A queridinha do mundo”, como bem definiu, na época, o cineasta James Cameron. Mas a atriz inglesa trocou confidências sexuais com Leonardo DiCaprio nos sets se via sozinha em quarto de hotel, fumando sem parar, e ainda precisa conter o ciúme de sua própria família
Kate Winslet está sozinha em um Starbucks em Midtown, Manhattan (Nova York): jaqueta de couro, café com leite e cabelo castanho-avermelhado ligeiramente desgrenhado. Do outro lado da cidade, Titanic (1997) atrai multidões. No filme, ela interpreta Rose DeWitt Bukater, uma aspirante a matrona da alta sociedade da Filadélfia que larga o noivo rico e se apaixona por Jack Dawson (Leonardo DiCaprio), um artista batalhador que tem a sorte duvidosa de encontrar o amor em um navio afundando. Por todos os Estados Unidos, meninas do ensino médio penduram fotos de Kate nas paredes do quarto e ficam imaginando se podem ter uma chance com DiCaprio se ficarem parecidas com a atriz britânica de 22 anos.
Por alguns instantes, me afasto do balcão e tenho uma visão estranha. Winslet parece, com frequência, hiperativa ou superexpressiva como aqueles atores que costumam se comunicar intensamente, mas agora está sentada com toda a calma do mundo. Ela ergue a mão e bate no vidro com os nós dos dedos. Daqui a algumas semanas, daqui a alguns dias, isso não será mais possível para Kate: ficar sentada com toda a tranquilidade e sem prestar atenção em nada, em público, ao lado de pessoas igualmente desligadas. Para o bem ou para o mal, este é um momento mágico, retorno à mesa bem devagar
As palavras provavelmente não são grandes o bastante para Kate: tudo que ela diz carrega consigo efeitos especiais, adjetivos como "brilhante", "absoluto" e "maravilhoso" e, por causa deles, tudo que sai da sua boca realmente parece brilhante, absoluto e maravilhoso - como se fosse um mundo levemente melhor do que aquele em que eu e você vivemos. E ela fica impaciente com pessoas que não conseguem acompanhá-la. "Tive uma conversa com a minha irmã menor e ela resmungou: 'Estou com rugas ao redor dos olhos, estou muito deprimida'. E eu respondi: 'Sua idiota, isso é emocionante! '" Winslet se emociona com o clima ("surpreendente!") e com animais atropelados na cidade: "Ah, olá! Esquilo morto! Splat! Que maldade!" De alguma forma, ela faz a gente se sentir culpado por não estar de bom humor. A impressão que se tem é que estamos diante de um coração batendo a120 pulsos por minuto, como o de um ratinho silvestre.
Há cinco anos, depois de fazer seu primeiro longa-metragem, Kate se viu fatiando presunto em uma rotisserie londrina. Ela tem tanto orgulho do que alcançou ali - de avental, tábua de corte e caixa registradora - quanto de qualquer um de seus trabalhos cinematográficos. "Quando se está desossando presunto, é preciso ter o garfo e a faca certos", teoriza. "Também fiquei muito boa com cheeses" [literalmente, queijos, mas também o que se diz para sorrir em uma foto]. O projeto em questão era o terror neozelandês Almas Gêmeas (1994), de Peter Jackson. Logo depois, ela coestrelou Razão e Sensibilidade, uma adaptação de Jane Austen feita em 1995, e recebeu um indicação ao Oscar como melhor atriz coadjuvante. Também estrelou Jude (1996), um épico depressivo sobre temas pesados, e viveu Ofélia no Hamlet de quatro horas de Kenneth Branagh. Ao que tudo indica, ela já teve a carreira que atores menos sérios desejam quando dizem querer se tornar atores sérios.
E Winslet é uma mulher de paixões. Eis como ela conseguiu o papel em Titanic: "Fechei o roteiro, chorei rios de lágrimas e pensei: 'Tenho que fazer parte disto, não há jeito". Então ela telefonou para seu agente, que deu alguns telefonemas. Winslet pediu: "Simplesmente me arrume o telefone do Jim Cameron". Ela discou o número do carro do diretor. "Ele estava na estrada. Acho que eu falei: 'Tenho que fazer Titanic, você é louco se não me chamar'." Quando DiCaprio foi sondado para viver Jack e os dois atores se encontraram no Festival de Cinema de Cannes, Winslet descobriu onde Leonardo estava hospedado, escapou de um evento de imprensa e o encurralou em seu quarto. "Fiquei pensando em convencê-lo a aceitar o papel, porque não vou fazer isto sem ele, simples assim", confessou. Edição 30, março/2009
Postado por: Diego Simion
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